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O jogo, enquanto um dos elementos do conteúdo da Educação Física escolar, juntamente com a ação docente, tem um papel importante no desafio de educar, visto que, como conteúdo, é parte significativa da cultura humana. O jogo permite comportamentos plásticos tanto da criança, do adolescente e do professor sobre sua estrutura e nas inúmeras possibilidades de criar e agir a partir dele, por não ser marcado pela mão da regulação internacional, e, ter suas origens ou práticas, próprias de um grupo social.

O conceito de jogo, ao longo da história, tem assumido papéis diferenciados para adultos e crianças na constituição da família e da sociedade. As tentativas em se conceituar o termo jogo são passíveis de várias interpretações, devido, ao mesmo ser empregado em vários âmbitos: na lingüística, na economia, na psicologia, etc., todos direcionados de acordo com as suas proposições. Qualquer atividade que não tenha uma utilidade aparente, que não se destine a cumprir uma tarefa, que não tenha um objetivo externo, pode ser considerada como um jogo. Desta forma, buscamos levantar alguns conceitos, que irão nos ajudar a situá-lo como conteúdo escolar de Educação Física, baseado em escritos de autores da área da Educação Física e autores clássicos.

Elkonin (1998) reforça a dificuldade, que ao logo da história, os pesquisadores e estudiosos vem enfrentando para conceituar o termo jogo. Para os gregos, o termo significa ações próprias das crianças; para os judeus, gracejo e riso; para os romanos, a palavra ludo significava alegria, regozijo, festa. Posteriormente, a palavra jogo passou a significar todas as ações humanas que não requerem trabalho e proporcionam prazer e alegria. Caillois (1990) diz que "uma característica do jogo não é criar nenhuma riqueza, nenhum valor. Por isso se diferencia do trabalho e da arte" (p. 25). De acordo com esse entendimento, o autor, considera o jogo como uma atividade livre, delimitada, incerta, improdutiva, regulamentada e fictícia.

Para Huizinga (1971) o jogo é um fenômeno cultural, um elemento que antecede a própria cultura (o autor entende cultura no momento que pressupõe uma organização humana na percepção de que a cultura não nasce do jogo, mas no jogo), carregados de valores e significados atribuídos a ele por seus praticantes. O autor conceitua jogo como

(...) uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da "vida quotidiana" (p. 13) .

Caillois (1990) afirma que o jogo é anterior a cultura, portanto, considera ser menos relevante investigar quem precedeu quem, mas entender as relações de interdependência entre o jogo e a cultura. Dessa forma, o autor explica ser possível compreender a sociedade a partir de seus jogos, pois os mesmos advêm das relações anteriormente estabelecidas.

O jogo enquanto fim exclusivo para a aprendizagem do esporte (jogos pré-desportivos) acaba por incorporar algumas orientações estabelecidas pelo sistema capitalista que seleciona, exclui e marginaliza os que o praticam. Visto da possibilidade de incorporação de valores de exclusão e discriminação do esporte de alto rendimento ao jogo, levanta-se a pergunta: o que diferencia o jogo do esporte? Mesmo sendo um tema para outro artigo, precisamos situar estes dois conceitos no presente debate.

O esporte acabou por resultar, em sua maioria, da esportivização de práticas corporais e culturais das classes populares, como jogos tradicionais/populares, que foram incorporados pela nobreza inglesa. No decorrer do desenvolvimento do esporte no interior da cultura inglesa, onde se deu início a esportivização, segundo Bracht (1997b), esta prática assumiu as características básicas da sociedade capitalista industrial, como a competição, o rendimento, o recorde, a racionalização e a cientificização do treinamento.

Com a industrialização e a urbanização modificaram-se as condições de vida da população, sendo assim, os jogos já não eram compatíveis e não possuíam o mesmo espaço na configuração dessa nova realidade. Assim, os jogos tradicionais foram sendo desvinculados de seus significados - festas, colheita, religião,..., de forma que vieram a se tornar esportes, ou, deviam cair no esquecimento, chegando até mesmo a ser proibida a sua prática.

Concordamos com Freire (2002) no sentido de considerar que o esporte não é uma instância superior ou separada, pois os jogos não devem ser tratados com o objetivo final de desenvolver o esporte e sim, com o propósito de contribuir com a formação dos sujeitos. Parlebas (2001) faz uso da denominação jogo esportivo agregando tanto os jogos esportivos tradicionais e jogos esportivos institucionalizados. Na perspectiva de delimitar as fronteiras entre jogo e esporte, com bases no entendimento de Pierre Parlebas, vamos fazer uso do conceito jogo esportivo tradicional. No entanto, não utilizamos o termo jogo esportivo tradicional porque, no contexto brasileiro, essa terminologia poderá confundir ainda mais a compreensão e remeter a discussões mais complexas como o fenômeno esportivo, o jogo tradicional, o jogo esportivo etc. Assim, optamos por utilizar simplesmente o termo jogo.

O estudo sustenta-se nos parâmetros estabelecidos por Parlebas (2001), para caracterizar o jogo: 1) está ligado à tradição de uma determinada cultura – são atividades relacionadas ao tempo livre, religião, colheitas, estação do ano, espaços urbanos, elementos típicos de um determinado grupo social; 2) é regido por um corpo de regras flexíveis que admitem muitas variantes, em função dos interesses dos participantes; 3) não depende de instâncias oficiais – as atividades acontecem a partir da organização local ou regional de um grupo social, de acordo com suas necessidades e interesses; 4) está à margem dos processos sócio-econômicos – o jogo, mesmo sofrendo influência desses processos, não depende diretamente deles para acontecer, diferente do que acontece nos esportes, que estão estritamente relacionados aos processos de produção e consumo; e 5) têm o movimento como principal forma de atuação, ou seja, os quais acontecem em tempo real, em que o movimento se constitui na principal forma de participação na atividade.

O jogo, ao longo da história, se fez presente na forma de vida das pessoas e na sociedade, aonde veio a ocupar espaços e tempos diferenciados, atribuindo-se significados e sentidos diversos em cada cultura. Na contemporaneidade, o jogo se faz presente, no mundo da infância e na memória dos adultos, nos eventos culturais de diversas etnias e, também no espaço formal de ensino - a escola. A seguir faremos um aprofundamento sobre a temática jogo escolar, de forma a abordar seu uso enquanto conteúdo ou como meio; suas possibilidades de ação, seu caráter lúdico e o objetivo pedagógico atribuído pelo professor.

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