Os esportes podem ser classificados levando-se em consideração diversos critérios, como a quantidade de competidores, a relação com os companheiros de equipe, a interação com o adversário, o ambiente, o desempenho comparado e os objetivos táticos da ação. Os chamados esportes de invasão ou territoriais são aqueles nos quais os competidores entram no setor defendido pelo adversário, objetivando atingir a meta contrária para pontuar, além de se preocupar em proteger simultaneamente a sua própria meta.
Os esportes possuem, em sua estrutura interna, forte orientação para o rendimento e competição exacerbada, além de uma perspectiva de justiça baseada em uma igualdade formal que é aplicada de acordo com regras e certa seletividade em relação a quem pode vivenciá-lo. Ao apresentarmos esse conteúdo, reproduzindo sua estrutura inspirada pelo rendimento, desconsiderando as particularidades do âmbito escolar e o que buscamos construir nesse meio, corremos o risco de fomentar um tipo de educação mecânica, que não questiona valores da estrutura social.
Portanto, é importante considerar qual a relação que o esporte irá ter com a educação física escolar. Por exemplo, a partir de uma abordagem pedagógica crítica, o tratamento dado ao esporte sugere que o ensino das técnicas/habilidades motoras aconteçam não para estimular o rendimento máximo de estudantes em aulas ou a competição exacerbada e, por consequência, a exclusão daqueles que não obtiveram determinado desempenho. Pelo contrário, "propõe sim, o ensino de destrezas motoras esportivas dotadas de novos sentidos, subordinadas a novos objetivos/fins, a serem construídos junto com um novo sentido para o próprio esporte.
O ensino dos esportes pode ser dividido em três vertentes: os saberes procedimentais que se baseiam na ação corporal; os saberes conceituais construídos a respeito de dados e conceitos relativos à prática corporal sistematizada e ainda há a dimensão atitudinal em relação ao ensino do esporte, na qual é mais dependente da construção do ambiente pelo professor que aborda aspectos éticos e morais em relação ao conteúdo. Manteremos esse esquema para estruturar o conteúdo e trataremos nesse plano, especificamente, dos esportes coletivos de invasão.
Um movimento corporal nunca é originado somente por impulsos anatômicos, bioquímicos e fisiológicos; o movimento é uma forma de expressão do sujeito mediado pelo seu psiquismo em um contexto que dá sentido a esse movimento. Existem diversas teorias que tendem a explicar os mecanismos que envolvem o processo de programação, execução e controle de uma ação motora, ou seja, o processamento da informação no âmbito do comportamento motor. Dentre as diferentes teorias, existem três mecanismos geralmente comuns: mecanismos de percepção, mecanismo de decisão e mecanismo de execução.
O mecanismo de percepção é responsável pela captura de informações do meio que chegam ao sujeito. Nesse sentido, é possível organizar, classificar e transmitir ao mecanismo de decisão informações decodificadas do ambiente e de sua natureza. A percepção é importante também para a formação da memória, armazenando informações que podem ser utilizadas em situações similares futuras.
A tomada de decisão consiste em um plano de ação que será formado pelo indivíduo baseado nas informações obtidas e compreendidas do meio e articuladas a um objetivo. Relacionada ao esporte, o plano de ação difere muito quando comparados esportes com e sem interação com o adversário. Em esportes sem interação com o adversário, o plano de ação é construído antes da competição em si e é seguido pelo atleta da maneira mais fiel possível. Já em esportes com interação, o plano de ação muda constantemente devido à interferência do adversário. Sendo assim, os esportes com interação, exigem uma complexidade cognitiva maior do entendimento da situação para melhor adequação das tomadas de decisão.
O mecanismo de execução consiste em colocar em prática o plano de ação anteriormente definido, essa execução depende do ato do movimento para garantir a realização da tarefa motora. Dois aspectos afetam diretamente a execução da tarefa motora: a coordenação (classificada em graus de dificuldade através de aspectos como: número de grupos musculares implicados, a estrutura do movimento, a velocidade de execução requerida e a precisão requerida na execução) e as capacidades mistas (coordenativas-condicionais), classificadas como maior dificuldade quando exigem esforços máximos ou próximos de máximo. Portanto, baseado nos mecanismos de processamento de informação, conclui-se que nos esportes coletivos, os jogadores devem realizar tarefas como antecipar a ação motora do adversário e do companheiro de equipe para organizar suas ações e buscar atingir um objetivo. Por isso, no ensino desses esportes, é de extrema importância que o(a) professor(a) utilize métodos de aprendizagem nos quais os alunos interajam entre si como adversários, vivenciando a realidade do jogo, transcendendo o ensino de técnicas isoladas, como se resolvessem os problemas de contexto de jogo.
Como metodologia de ensino, os esportes coletivos foram situados nessa categoria por possuírem as mesmas invariantes em sua estrutura. Essas invariantes são seis: uma bola (ou implemento similar), um espaço de jogo, parceiros com os quais se joga, adversários, um alvo a atacar (e, de forma complementar, um alvo a defender) e regras específicas.
Por terem a mesma estrutura lógica, o processo pedagógico de ensino pode ser facilitado através das seis regras de ação da lógica interna dos esportes coletivos. Dessas seis regras, três são para o ataque: conservação individual e coletiva da posse de bola; progressão em direção ao alvo adversário e finalização da jogada, visando à obtenção do ponto. E três para a defesa: recuperação da bola; impedir o avanço da equipe em direção ao alvo que defende e proteção deste alvo, visando impedir a finalização da equipe adversária.
Por fim, para facilitar a compreensão e análise estrutural dos esportes coletivos, Daolio (2000) sugeriu um modelo pendular que segue abaixo:
Através desse modelo, é possível observar que os princípios operacionais (ataque e defesa) são menos móveis, traduzindo a característica comum aos esportes coletivos. Já as regras de ação possuem um pouco mais de mobilidade (estando de acordo com cada modalidade) e, por fim, os gestos técnicos são os mais particulares de cada modalidade em si. Essa ilustração indica o caminho facilitado para o processo de ensino e aprendizagem.
Lembrando que, para a disputa de esportes de invasão, existem duas equipes que possuem uma meta a ser defendida e a meta do adversário, para ser invadida e atacada a fim de computar pontos. A transição de ataque para defesa acontece a todo momento. A manutenção da posse de bola é de suma importância para a eficiência do ataque e, nesse momento, a defesa deve se posicionar da maneira mais adequada para retomar a posse da bola e passar a atacar. As metas a serem defendidas e/ou atacadas estão sempre posicionadas nas linhas de fundo dos campos ou quadras retangulares, características desses esportes. Exemplo: basquetebol, corfebol, floorball, frisbee, futebol, futsal, futebol americano, handebol, hóquei na grama, lacrosse, polo aquático, rúgbi, etc.
Treino em Circuito Funcional